quarta-feira, 13 de abril de 2011

Matemática equivocada


Matemática fora do esquadro
Imagine o seu filho chegar da escola e lhe pedir ajuda para resolver, entre outras, as seguintes questões de Matemática: “Zaroio tem um fuzil AK-47 com carregador de 80 balas. Em cada rajada ele gasta 13 balas. Quantas rajadas poderá disparar?” Ou então: “Chaveta recebe R$ 500,00 por BMW roubado, R$ 125,00 por carro japonês e R$ 250,00 por 4x4. Como já puxou dois BMW e três 4x4, quantos carros japoneses terá que roubar para receber R$ 2.000?”
Essas e outras perguntas afins foram escritas em uma lousa por um professor de Matemática de uma escola pública de Santos, o que gerou a revolta dos pais de uma aluna de 14 anos, que levaram o caso até a Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes (Dise). É óbvio que o caso gerou polêmica, inclusive com manifestações de alunos em favor da permanência do professor na escola.
Recentemente, uma professora foi assassinada, na frente de uma escola de Umbu das Artes, quando voltava de sua licença-maternidade, supostamente por um antigo aluno. Aqui mesmo, em nosso estado, muitos casos de violência dentro de nossas escolas são cometidos quase que diariamente. Eu mesmo, juntamente com um colega, tive, em um dos corredores da escola onde trabalhava, um revólver apontado por pessoas que facilmente pulam os muros para cometer toda sorte de delitos. E essas ações, apesar de estarem no contexto e nas estatísticas da violência urbana, são bem mais preocupantes, pois os crimes não se dão numa esquina escura e deserta de um bairro periférico, mas no seio de um local que se julga seguro. O que uma mãe pode pensar quando nem mesmo o professor está seguro dentro da escola? O que pensar quando a escola passa a ser alvo banalizado, apenas mais uma opção para o roubo fácil e conveniente? Como uma educadora, mãe e esposa, pode ser assassinada em frente de seu local de trabalho e ainda mais por um ex-aluno seu?
Estas parecem perguntas verdadeiramente pertinentes para se fazer. Pedir para alunos adolescentes resolverem problemas matemáticos envolvendo tráfico e roubo é outra coisa. Não se trata, aqui, desta ou daquela pedagogia, mas da forma mais correta e adequada de educar. Um colega do professor fala que “O tráfico faz parte da realidade dos alunos. É o método Paulo Freire”. Ora, teríamos que retirar o mestre idealizador da “pedagogia dos oprimidos” de seu merecido descanso e pedir sua opinião. Parece-me que não se pode confundir “pedagogia dos oprimidos” com “pedagogia de apologia ao crime”.
É salutar trabalhar um ensino construtivista em que se invista na educação para a vida, para o trabalho e para a cidadania. Esse professor poderia, por exemplo, pedir para os alunos fazerem uma pesquisa sobre a violência no entorno da escola, trazendo números e estatísticas. Os estudantes, então, poderiam passar para a reflexão e discussão a partir dos números coletados, não apenas tendo de responder a questões específicas e tão próximas de uma realidade que não se pode, é claro, esconder, mas que se pode minimizar em nome da educação de pessoas ainda suscetíveis a influências desgastantes e corrosivas.
É preciso que se diga que nada daquilo que se produz na escola tem caráter de neutralidade. Tudo tem um caminho, uma via traçada. Se a escola segue esta ou aquela pedagogia, será responsabilizada pelos resultados, sejam eles bons ou ruins. E não é certo tratar criança ou adolescente como adulto. Ao tratar esse tipo de pergunta nas salas de aulas, os alunos correm o risco de achar que respondê-las é tão natural quanto responder a uma questão matemática sobre regra de três envolvendo a relação entre as compras e os preços dos produtos que suas mães adquirem nos supermercados e feiras nos finais de semana.
                                                                                                                                       
Matéria endereçada ao Jornal "O LIBERAL"

Um comentário:

  1. Se você fosse o juiz nesse caso, em que esse professor fosse acusado pela prova que passou, você o absolveria ou não? Por quê? Opine e participe.

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